quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sobre a Brevidade da Vida.

Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com grande generosidade pra a realização de importantes tarefas. Ao contrario, se desperdiçada no luxo e na indiferença, se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita nenhum valor, não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai.
Desse modo, não temos uma vida breve, mas fazemos com que seja assim. Não somos privados, mas prodigo de vida. Como grandes riquezas, quando chegam às mãos de um mau administrador, em um curto espaço de tempo, se dissipar, mas, se modesta e confiada a um bom guardião, aumentam com o tempo, assim a existência se prolonga por um longo período para o que sabe dela usufruir.




Sêneca. Sobre a Brevidade da Vida.

domingo, 25 de setembro de 2011

Pátria Minha


(...)

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

(...)

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

(...)

(...)"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."

       
Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa

Mafalda.....




Alguém tem algum remédio aí...?    

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Diferença entre pensamento e Discurso.

Estrangeiro: Pensamento e discurso são, pois, a mesma coisa, salvo que é ao diálogo interior e silencioso da alma consigo mesma, que chamamos pensamento.

Estrangeiro: Mas a corrente que emana da alma e sai pelos lábios em emissão vocal, não recebeu o nome de discurso?



PLATÃO. Sofista.

Ao 'Filosofo'.

'(...)"indo de cidade a cidade", não aqueles que não apenas parecem, mas que realmente são filósofos, observam das alturas em que estão a vida dos homens de nível inferior. A uns eles parecem na realidade, nada valer, e a outros, valer tudo. (...)'


PLATÃO, Sofista. 216d.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Rondó da liberdade.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.

Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.

É preciso não ter medo.
É preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre ...
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir até quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.

É preciso não ter medo.
É preciso ter a coragem de dizer.


Carlos Marighella

sábado, 17 de setembro de 2011

Che Guevara.

"Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário".

"Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros".

"As tantas rosas que os poderosos matem nunca conseguirão deter a primavera."


Che Guevara.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ética. Da servidão humana. Spinoza.


Proposição XXVI

Todo esforço que tenha a Razão como princípio não tem outro objeto senão o conhecimento; e a Alma, na medida em que usa a Razão, não julga que nenhuma coisa lhe seja útil, mas apenas aquilo que leva ao conhecimento.

Proposição XXVII

Não existe coisa alguma que saibamos com certeza ser boa ou má senão o que leva realmente ao conhecimento ou pode impedir que conheçamos.


ÉTICA. Da Servidão Humana. Spinoza.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Amor Perdoa Tudo.


Fotos de amor são ridículas, mas ainda mais ridículo é nunca tirar fotos de amor.

Não há como esnobar certas aparições, manter pose de intelectual e prometer que dessa máquina não beberei.

Existem fotografias obrigatórias na nossa existência, fiascos essenciais que continuaremos reproduzindo até o Juízo Final. Representam estréias, nascimento, inaugurações, onde é impossível rejeitar o clique. Guarde a reclamação e a timidez no estojo, ficará condicionado a tolerar o xis, olhar o passarinho, arrumar um lugar na barreira e aceitar as ordens de incentivo do fotógrafo.

São imagens que partilham o mistério da música brega: ninguém conhece, todos sabem a letra.

Referem-se às cenas fundamentais do ciclo da vida, espécie de cartões- postais familiares. Sem eles, a sensação é de que não nascemos, de que não tivemos família, de que não pertencemos à normalidade fotogênica do mundo.

É o mesmo que visitar o Egito e não posar na frente das pirâmides, visitar Paris e não ostentar a Torre Eiffel ao fundo do plano, passar pela China e desdenhar as curvas da Muralha.

De que flagrantes estou falando?

Daqueles que não podemos fugir, senão demonstraremos indiferença, frieza, falta de emoção.

Daqueles que debochamos ao encontrar na gaveta dos outros e que ocupam a maior parte de nossos porta-retratos.

Um deles é a troca de cálices no casamento. Quando o noivo e a noiva embaralham os braços. Apesar do desconforto tentacular, o casal tem que sorrir. Qual o menos pior: este brinde de espumante ou o corte a dois do bolo do casamento? Trata-se de uma disputadíssima concorrência para abrir o álbum.

Lembro também do clássico beijo do pai na barriga da gestante. A grávida sempre está nua, o que é involuntariamente engraçado. O homem surge agachado com roupa social diante de sua companheira pelada. Se não fosse a criança por vir, estaria na parede de uma borracharia.

Não dá para esquecer a grande angular do baile de debutantes: as adolescentes como time de futebol, posicionadas em diferentes degraus. E a nossa foto tomando o primeiro banho, usada pela mãe para nos envergonhar na adolescência. E sem os dentes da frente, e lambuzado de chocolate, e sendo lambido pelo cachorro.

Fotos ridículas e inesquecíveis, adequadas para chantagem e suborno, mas que se tornam – por vias tortas – recompensas do amor.

São justamente as fotos que vamos procurar para sentir saudade. E, ao lado dos filhos, rir e chorar ao mesmo tempo.


Fabricio Carpinejar.
Publicado no jornal Zero Hora Coluna semanal, p. 2, 13/09/2011 Porto Alegre (RS), Edição N° 16824

domingo, 11 de setembro de 2011

Charlie Brow

A Ameaça da Canção de Ninar

Quem dorme aceita se retirar da realidade e ficar indefeso. Essa retirada, sem a qual nós não vivemos, pode ser angustiante e deve ser facilitada. Por isso, espera-se  de uma canção de ninar que seja apaziguadora.
No entanto, ainda hoje, no Brasil, ouve-se a canção aterradora com a qual fui criada. Tive o desprazer de constatar isso ligando a Rede Globo e vendo um ator que cantava; enquanto segurava um bebê nos braços; “Dorme, neném, que a Cuca vem pegar. Papai foi pra roça, mamãe foi passear”. O rosto do ator era bonito e do bebê, comovente- dois anjos. Mas, sem ter consciência do que fazia, o ator ameaçava a criança. Dizia-lhe que o pai e a mãe estavam ausentes, e, caso não dormisse, a Cuca a levaria.
Popularmente, a Cuca é uma velha feia parecida com um jacaré. Segundo o Aurélio, um bicho-papão ou papa-gente. E, de acordo com Monteiro Lobato, uma bruxa com unhas compridas como as de um gavião.
Como explicar a vigência de uma canção de ninar tão assustadora, se não pelo sadismo dos adultos em relação ás crianças? Um sadismo cujas consequências podem ser nefastas.
A educação começa no berço, com as primeiras palavras, que tanto podem abrir  quanto fechar os nossos caminhos. Isso significa que o educador — o pai, a mãe ou outra pessoa – precisa atentar para o que diz.
Em vez de fazer menção á Cuca, porque não escolher, por exemplo, uma canção de ninar como as dos Beatles, Good Night? “Hora de dizer boa-noite. Boa noite durma bem. O sol já apagou sua luz. Boa noite durma bem”. Uma canção que associa o sono à desaparição do sol,  fazendo dele um fenômeno natural.
Ninguém é obrigado a procriar.  A obrigação está fora de moda. Mas quem tiver filho precisa se ocupar dele durante a infância com devoção e inteligência. Contrariando os hábitos, se preciso for.
A vida não é fácil e, para evitar dificuldades futuras, a prevenção é sempre melhor do que o tratamento. Nós só nos esquecemos disso porque não somos educados para ser felizes, e sim para repetir o que os outros fizeram sem questionar.


Betty Milan

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Correr Riscos.

Rir é correr risco de parecer tolo.
Chorar é correr riscos de parecer sentimental.
Estender a mão é correr risco de se envolver.
Expor seus sentimentos é correr risco de mostrar seu verdadeiro eu.
Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas.
Amar é correr risco de não ser correspondido.
Viver é correr risco de morrer.
Confiar é correr risco de se decepcionar.
Tentar é correr risco de fracassar.
Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é não arriscar nada.
Há pessoas que não correm nenhum risco, não fazem nada, não tem nada e não são nada.
Elas podem ate evitar sofrimento e desilusão, mas elas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem.
Acorrentados por suas atitudes, elas vivem escravas, privam-se da sua liberdade.
Somente a pessoa que corre riscos é livre.

Sêneca.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O Amor é que é Essencial.

O amor é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente.
Embora às vezes doente.


Fernando Pessoa. Das Coligidas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Vivem em nós inúmeros;


Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se pensa ou sente.

Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente de todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu 'screvo.


Fernando Pessoa. Ficções do Interlúdio / Odes de Ricardo Reis.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Eu Amo tudo o Que Foi,

Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.



Fernando Pessoa. Poesias Coligidas / Inéditas 1919-1935