sábado, 7 de abril de 2018

tempos difíceis para minha pátria

o último país a proibir a escravidão
o primeiro a permitir a opressão
e aquele que se incomoda
com a comoção pela morte
da mulher negra favelada

gente que se incomoda
com a futilidade alheia
se ela for pobre, negra
se ela faz mexer a bunda
mas ninguém se aprofunda
nas letras das baladas da moda
com as mulheres desmerecidas
rebaixadas, feito coisas

é fácil dizer “mata todo mundo”
e esconder-se na sonegação
na situação privilegiada
pela falta de direitos dos outros


“vontade de beijar os olhos de minha pátria
de niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...”*

vontade de ama-la

porque são tempos difíceis para minha pátria
desde que ela nasceu...

Pablo Vinícius de Oliveira
29/03/2018

*Trecho: Pátria Minha, Vinicius de Moraes

terça-feira, 13 de março de 2018


aqui não se para nem para dormir
nem ônibus para na parada
nem o peito apara
a queda nem paraquedas
e a chuva o para-brisa não para
nem o para-raio nem coisa nenhuma
aqui nessa cidade ninguém para
nem o mar para
nem o guarda para
nem o porteiro para ninguém
nem é para ninguém essa cidade
só para alguns
que ninguém para
na blitz não para
na faixa ou no sinal
nem o crime para
aqui nessa cidade
só água parada
e nem é para o bem

Pablo Vinícius de Oliveira
02/03/2018