sexta-feira, 28 de março de 2014

Soneto de sábado no bar

Eu sento à mesa e chamo o garçom,
Hoje eu só quero esquecer-me do tempo.
Na vida, de culpa não fui isento,
Mas desejo lembrar do que foi bom.

No segundo copo olhos me fitam,
Tento encara-los, mas eles me fogem.
Eu só vejo os seus cabelos que surgem,
Tento segui-la, mas meus pés hesitam.

E ela passa como o tempo passa,
E o tempo para pr’eu lhe admirar.
Fico a noite toda até que o dia nasça

Embriagado à mesa a pensar:
Como tão bela é esta criatura,
Que passa e olha e eu perco a postura.

Pablo Vinícius de Oliveira
28/03/2014

segunda-feira, 24 de março de 2014

Minha vontade de dizer

Transformo-me em eterno
Para te escrever palavras findas
E não ser consumido
Por essa coisa que é gostar de você

Fora de mim tudo acontece
Senhores jogam damas e xadrez
Nas praças da cidade
Pessoas perdem horas
No transito insensato

Bombas são lançadas
Tiros são disparados
O mundo todo é o caos
Terras são anexadas
E os países não se entendem

Aviões desaparecem no nada
Pelas ruas pessoas são arrastadas
Soldados dormem nas guaritas
Nos museus que se fecham
As obras se calam

E em mim só a vontade de dizer que penso em você.


Pablo Vinícius de Oliveira
24/03/2014

domingo, 23 de março de 2014

Meu drama de não te falar

Venho a te dizer neste momento
Que não há nada mais violento
Que o silêncio que me agride
Quando eu posso te falar

Assisto filmes e faço poemas
Perco horas tentando ocupar minha cabeça
Mas sua imagem na minha mente
Se opõe à sua ausência

É de fato mortal minha covardia
Que não me deixa pronunciar poucas palavras
Para dizer que gostei de você
Sem precisar olhar nos teus olhos

Vou terminar aqui estes versos bobos
Para continuar meu drama
De viver no anonimato.

Pablo Vinícius de Oliveira
23/03/2014

sábado, 22 de março de 2014

Desejo coletivo

O que desejo?
Uma tulipa de primavera
Em solo congelado
Um amor quente
Violão em noites de Lua
Ser teu, ou ser tua
Uma liberdade que transgrida as regras
Ou ao menos um café com canela
Mais ou menos, não importa
Mas que seja agora
E não deixe para depois
Quero um amor que bata minha porta
Que chegue sem julgamentos ou pudores
E não apenas um perfume
Derramado na maçaneta
Que se vai
E fica inquieto
E que não se esquece

Eu desejo gozar
Nas noites em que você me aquece
Ou nas manhãs em que acordo só
Ouvindo Chico Buarque
Mas que a arte me venha socorrer
Das manhãs inventadas de saudades
Pois é apenas isso que tenho para me oferecer
A solidão que desce com a chuva
A dor no peito tal qual a um infarto
Você sorrindo feliz nos meus sonhos
E eu aqui apenas desejando:
Uma tulipa de primavera
Em solo congelado.

Clayse-Anne,
Débora Almeida,
Bruno Costa,
Emanuel Almeida,
Pablo Vinícius de Oliveira
16/03/2014

quinta-feira, 20 de março de 2014

Em todo lugar

O café à tardinha
O Sol entrando pela janela
A árvore por trás da cortina
Que balança com o vento

O cobertor que nos aquece
Da brisa fria das chuvas de inverno
Um cafuné de surpresa
Numa manhã de preguiça

Cheirinhos no meio da noite
Cobrir-nos no meio do sono
Bons livros antes de dormir
Isso me parece tanto com o amor.

Pablo Vinícius de Oliveira
19/03/2014


terça-feira, 18 de março de 2014

Banco vazio, me vejo e passo

Por vezes eu li
Escutei em músicas
Por aí, e por aqui

Que a solidão nos faz mal

Sempre que viajo
Eu vejo o Sol nascer
E eu penso

(Sem rima
Ela é clichê)

Sempre que me afogo
Em qualquer copo
Eu penso o porquê

E quando me encontro
Não sei onde estou

Eu ouço as trilhas sonoras
Dos filmes feitos para dois

Olho os bancos das praças
E os lugares no cinema

Vejo o ator e a cena
Ela sempre se repete

O lugar que sobra
Nos bares da cidade

Dou a mão ao vazio
Ele me segura firme

Em tudo eu percebo que estou só
E eu olho de lado
Eu dou mais um passo
Eu deixo-me ir.


Pablo Vinícius de Oliveira
17/03/2014

quinta-feira, 13 de março de 2014

Dialogo para não amar (quando já se ama)

E esse meu coração
Que não diz nada
Que faz as malas
E pega a estrada

– Me leva junto com você

Meu corpo
Que não dança ao som da música
Minha perna
Que não balança de nervosa

– Sei que você não vem

E meus olhos
Que não olham teus olhos negros
Que não brilham
Como brilham as estrelas na noite escura

– Eles não vão te ver

E as tardes, e os bares
Serão vazios
Minha loucura será imensa
E minha paz, um delírio

– Não vou poder pensar em nós dois.


Pablo Vinícius de Oliveira
13/03/2014

domingo, 9 de março de 2014

Eu tento ou me jogo ao mar?

Todo alvoroço
É só um sinal para o desgosto
Que vem com a decepção

O carnaval passa
E a realidade faz avalanche
No principio da ilusão

Bobo sou eu que crio expectativas
Planos, paixão e futuro

Para todos o carnaval acaba
Sempre na quarta-feira de cinzas

O meu percorre o ano todo
Como se toda a bateria
Tocasse dentro do meu peito

Se há uma chance para o amor
Por que não dá-la?
Parece melhor se esquivar
O amor ainda parece assombração

Eu tento ou me jogo ao mar?
Eu insisto ou simplesmente
Deixo estar?


Pablo Vinícius de Oliveira
08/03/2014

segunda-feira, 3 de março de 2014

Crer e não ser

Continuo achando
Que se eu deixar de acreditar
As coisas deixam de ser verdadeiras

Como algo pode existir
Se eu não acredito nele?

Mas é verdade
Que por diversas vezes acreditei
E nada existiu

Tento compreender que existência
Não depende de minha crença
No mínimo a ideia da coisa existente

Mas a realidade
É bem mais cruel
Que o ideal.


Pablo Vinícius de Oliveira
28/02/2014