domingo, 27 de maio de 2012

(...)


Volta, mais uma vez e sempre, à imagem daquela mulher deitada no divã; ela não lhe lembrava ninguém de sua vida de outros tempos. Não era nem amante nem esposa. Era uma criança que ele retirava de uma cesta e que depositara na margem da sua cama. Ela havia adormecido. Ele se ajoelhara ao seu lado. Sua respiração febril se acelerava e ele ouviu um leve gemido. Encostou o rosto no dela e sussurrou palavras reconfortantes enquanto ela dormia. Alguns instantes depois, sua respiração se acalmou e seu rosto se levantou maquinalmente em direção ao dele. Sentiu nos lábios o cheiro um pouco acre da febre e o aspirou como se quisesse se impregnar da intimidade do corpo dela. Imaginou então que fazia muitos anos que ela estava na sua casa e que morria. De repente, pareceu-lhe evidente que não sobreviveria à morte dela. Deitou-se ao lado para morrer com ela. Movido por essa visão, enfiou o rosto no travesseiro, junto ao dela, e assim ficou por muito tempo.
Agora, Tomas está de pé à janela e relembra esse instante. O que se revela assim, senão o amor?


Milan Kundera -  A Insustentável Leveza do Ser. 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Por Que Ainda Estou Acordado?


Eu não sei de mim.
E nem porque ainda estou aqui acordado
Chorando pelo leite que derramou.

Me faço perguntas,
Infelizmente não sei responder
É difícil colocar a vida em uma balança
Não sei nem se é possível

De onde vem a calma que não me deixa enlouquecer?
E a lagrima que não desce para me aliviar?

Pelo que vejo não se mede nem as palavras
Quanto mais pesar a vida.

Mas ainda lhe peço uma coisa:
Me deixe sonhar,
Deixe-me acreditar que ainda posso viver.


Pablo Vinícius.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Nega a Vida e Abraça a Morte.

Posso ser qualquer coisa,

posso até não ser nada...

Mas o que sou ou deixo de ser

sou com orgulho.


Queria agora dizer o que sinto,

mas dei minha liberdade...

e estou preso dentro do meu eu...


Sim, sou sensível, sou sentimental.

Sim, sou poeta, sou artista.

E tenho sim muitos sonhos,

um deles é ser quem sou.


Meus olhos são meus contatos com o mundo,

e sou poeta, não porque escrevo poesia,

mas porque sei ver a beleza que me cerca.


Fechar meus olhos é negar a vida

e abraçar a morte...


Pablo Vinícius.


Pablo Vinícius.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Esperando Aviões.




Meus olhos te viram triste 
Olhando pro infinito 
Tentando ouvir o som do próprio grito 
E o louco que ainda me resta 
Só quis te levar pra festa 
Você me amou de um jeito tão aflito
Que eu queria poder te dizer sem palavras 
Eu queria poder te cantar sem canções 
Eu queria viver morrendo em sua teia 
Seu sangue correndo em minha veia
Seu cheiro morando em meus pulmões
Cada dia que passo sem sua presença 
Sou um presidiário cumprindo sentença 
Sou um velho diário perdido na areia 
Esperando que você me leia
Sou pista vazia esperando aviões
Sou o lamento no canto da sereia
Esperando o naufrágio das embarcações.


Vander Lee.

Vander Lee.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sobre o Pensar.



(...) Um outro é pensar: e verifico aqui que o pensamento é um atributo que me pertence; só ele não pode ser separado de mim. Eu sou, eu existo: isto é certo; mas por quanto tempo? A saber, por todo o tempo em que eu penso; pois poderia, talvez, ocorrer que, se eu deixasse de pensar, deixaria ao mesmo tempo de ser ou de existir. (...)


Descartes.
Descartes: Meditações: parágrafo 7. 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sobre o que Duvidar.


“Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esse sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar  em quem já nos enganou uma vez.”


Descartes.


Descartes: Meditação Primeira. Parágrafo 3.