domingo, 21 de agosto de 2011

O teu riso - Trecho

Nega-me o pão, o ar,
A luz, a primavera,
Mas nunca o teu riso,
Porque então morreria.

Pablo Neruda.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Mesmo Assim Dormimos. 'Sociedade dos Poetas Mortos'.


Sonhamos com o amanhã,
E o amanhã não vem
Sonhamos com a glória,
Que não desejamos
Sonhamos com um novo dia,
Quando este já chegou
E fugimos da batalha,
Uma que deve ser enfrentada.
Mesmo assim dormimos.

Ouvimos a chamada,
Mas não a escutamos
Esperamos pelo futuro,
Quando não passa de planos
Sonhamos com a sabedoria,
Da qual fugimos diariamente
Oramos por um salvador,
Quando a salvação está em nossas mãos.
Mesmo assim dormimos

Mesmo assim sonhamos,
Mesmo assim tememos,
Mesmo assim oramos,
Mesmo assim dormimos.


Poesia encontrada nos Extras do Filme 'Sociedade Dos Poetas Mortos'. Um Filme lindo e emocionante, que mostra toda a beleza da vida e o espírito de luta da juventude.

Carpe Diem Senhores.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Cálice. Pai! Afasta de mim esse cale-se.



Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor e engolir a labuta?(...)
(...) De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra.

(...) Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno. (...)
(...) Me embriagar até que alguém me esqueça.

(...) Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue... ♪♪



Chico Buarque

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sobre o Cansaço da Alma. Filme 'O Mestre Da Vida'.

- Depois do ataque alemão, havia pouco motivo pra ficar. Fui parado na fronteira por um jovem soldado alemão... Deveria ter sua idade. Ele me perguntou para onde eu ia. Eu disse que estava deixando meu país, que ele tinha invadido. E que queria ser livre. E que se ele não gostasse, poderia atirar em mim. Mas eu não iria parar de andar. Continuei a andar, a andar, a andar, a andar. Ele não atirou.
- Você foi corajoso.
- Não, Não. Não fui corajoso. Só estava cansado demais para me importar.


Filme: O Mestre da Vida.

domingo, 14 de agosto de 2011

A Você, Com Amor.


O amor é o murmúrio da terra
quando as estrelas se apagam
e os ventos da aurora vagam
no nascimento do dia...
O ridente abandono,
a rútila alegria
dos lábios, da fonte
e da onda que arremete
do mar...

O amor é a memória
que o tempo não mata,
a canção bem-amada
feliz e absurda...

E a música inaudível...

O silêncio que treme
e parece ocupar
o coração que freme
quando a melodia
do canto de um pássaro
parece ficar...

O amor é Deus em plenitude
a infinita medida
das dádivas que vêm
com o sol e com a chuva
seja na montanha
seja na planura
a chuva que corre
e o tesouro armazenado
no fim do arco-íris.


Vinicius de Moraes

DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis... Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana - Espelho Mágico

Para o Dia dos Pais.

“Pai nunca é aquele que gera, ele é sempre a testemunha do torna-se pessoa.”
 
Victor Franklin

sábado, 13 de agosto de 2011

De Quem É o Poder?

De quem é?
De quem é?
De quem é o poder?
Quem manda na minha vida?
De quem é?
De quem é?

Uns dizem que ele é de Deus
Outros, do guarda da esquina
Uns dizem que é do presidente
Outros, quem vem lá de cima

De quem é?
De quem é?
Quem inventou essa tara?

Uns dizem que ele é do povo
E saem pra trabalhar
Outros, que é dos muito loucos
Que não têm contas a prestar

Me dê poder e eu te mostro
O mais inteiro dos sonhos
Porque as verdades da vida
São sempre ditas na cama

É do ativo ou do passivo?
De quem é?
De quem é?

Às vezes você me domina
Pensando que eu sou teu dono
Às vezes você me dá nojo
Seguindo feliz o rebanho
Onde vai dar tudo isso?

Prender alguém ou ser preso
Quem é o mais infeliz?
Eu, dando ordem o dia inteiro?
E você, que nem sabe o que diz?

Me dê poder e eu te mostro
O mais inteiro dos sonhos
Porque as verdades da vida
São sempre ditas na cama.


Cazuza.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Soneto da Constante Mudança


Deixo aqui a ultima coisa que sinto,
Pois bem sei que pode não haver outra.
És o poeta uma alma a vagar solta
Não sei mais se é verdade ou se minto

Não sei nem o que sou na realidade
Oculto é tudo que se passa em mim
Minha poesia é meu belo jardim
Mas não sei até quando será verdade

É loucura entender minha cabeça
Certo que disso nada permaneça
Um novo homem seja eu a cada dia

E nessa eterna mudança que é a vida
Descubro um pouco de mim a cada ida
E ainda morro sem saber quem seria.



Pablo Vinícius de Oliveira

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Acorda, levanta, Vai.

Acorda falso profeta
Levanta e vem
Sobe ao mundo
Veja a realidade

Levanta pequeno poeta
Não para o tempo
A musica toca seu canto
Pra vida que não é tocada


Vai grande homem de pouca idade
De pouca carne, de pouca historia

Que sofre porque sonha
E sonha porque sofre

Na injustiça dos poucos com muito
Sem voz, sem escolha, sem sentido
Oprimido, agredido, atacado
Mente por falar a verdade

Sem escolha, pois tudo é ditado
Omitido todos os fatos
Tudo é belo
Se nada pode deixar de ser

Acorda, levanta, vai
Ainda há os que resistem
Pois no céu dos aviões
Ainda voam os pássaros
E no mar dos barcos
Ainda nadam os peixes.



Pablo Vinicius de Oliveira.

sábado, 6 de agosto de 2011

Sobre as faces da Verdade.

Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda razão. Não era que um via uma coisa e o outro outra, ou que um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão.
Fiquei confuso desta dupla existência da verdade.



Fernando Pessoa. Encontro de Poesia
.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Viajo no teu corpo.


“Viajo no teu corpo. Só teu corpo?
Mas quão breve seria essa viagem
Se no limite dela a alma nua
Não me desse do corpo certa imagem.”



José Saramago.

Sobre o Homem Deficiente.

(...) A questão é que nenhum deus persegue a sabedoria ou tornar-se sábio, pois já o é; e ninguém mais que seja sábio persegue a sabedoria. Nem o ignorante persegue a sabedoria ou deseja ser sábio; nisso, aliás, a ignorância é confrangedora: estar satisfeita consigo mesma sem ser uma pessoa esclarecida nem inteligente. O homem que não se sente deficiente não deseja aquilo de que não sente deficiência.


Platão. Banquete.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Andrea Doria

Às vezes parecia
Que de tanto acreditar
Em tudo que achávamos
Tão certo...

Teríamos o mundo inteiro
E até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços
De vidro...

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir...

Não queria te ver assim
Quero a tua força
Como era antes
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada...

Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria
Um livro aberto...

Até chegar o dia
Em que tentamos ter demais
Vendendo fácil
O que não tinha preço...

Eu sei é tudo sem sentido
Quero ter alguém
Com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim...

Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada
Que eu segui
E com a minha própria lei...

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também...



Renato Russo. Legião Urbana.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

METÁFORA

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora


Gilberto Gil.