sábado, 29 de novembro de 2014

Uma lembrança lírica

Caminhávamos pela estrada de terra batida e pedregulhos
Você olhava os bichos e as plantas ainda verdes
Eu apenas te olhava

O Sol era claro, pouco menos do que nossos olhos poderiam resistir
Os sons eram cânticos, a natureza se fazia presente sem maiores ressentimentos
Pouco se ouvia do som da cidade, um ruído ao longe, um murmuro trago pelo vento

Era manhã de sábado, e deveríamos ter acordado com o sol em fúria
Mas subvertemos as vontades do sono e da preguiça e pulamos logo cedo
O dia ainda estava frio, ainda assim não teve quem te segurasse

Naquela hora o astro rei já se impunha soberano
Mesmo assim você pedalava lenta, desatenta do caminho
E atenta demais pelo que se passava em volta

Uma verdadeira desbravadora oriunda do litoral em pleno semiárido
Mesmo com o sol radiante o dia estava apenas começando
Os pássaros ainda cantavam e teus olhos eram câmeras fotográficas, nada escapava

Você viu a água que acumulada das poucas chuvas dava uma cara nova àquele ambiente
Parou, desceu, correu, eu te acompanhava como um pai que cuida do filho extasiado
Nunca vi tanta energia numa pessoa que não tinha mais 10 anos, mais que o dobro, diria

Rapidamente você apanhava as pedrinhas do chão e as arremessava na água
E ficava ali a observar o ricocheteado delas pela superfície da água até afundarem
Duas, três vezes, era puro encanto infantil na descoberta das coisas simples

Enquanto eu te observava sentado sobre o lajedo à sombra de grandes árvores
Você me chamava para te olhar de perto e eu apressado atendia ao teu pedido
Não havia como negar o pedido para observar de perto o encantamento

Contudo, eu acordei, olhei dos lados e daquela história ficou apenas minha vontade
Eu acordava na cidade litorânea, o seu paradeiro eu desconhecia
Não dormi mais, aquela lembrança me perturbou o dia todo

Eu só conseguia questionar o tempo: quando tão bela lembrança
Iria fazer parte de minha vida como um acontecimento lírico
Em plena modernidade do séc. XXI?


Pablo Vinícius de Oliveira
29/11/2014

Rabiscos XXXI

Sobre as coisas eternas:
Guardei-te em meus versos

Pablo Vinícius de Oliveira
29/11/2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A violência de um silêncio

O silêncio é o vazio
É difícil pensar o vazio como algo
O vazio do silêncio pode ser muita coisa
Uma das principais é ser violento

O mundo todo procura 43 estudantes desaparecidos
O Governo Mexicano silencia
Neste silêncio estão presentes
Tudo que foi praticado contra os desaparecidos
E a conveniência assassina do governo
Para este silêncio a voz indignada das ruas

O som de uma explosão nuclear
Atinge 480 km de distancia
O quão devastador não é essa explosão?
Mas penso no silêncio depois dela
Em todas as vozes que foram caladas
E na eternidade que este silêncio se tornou
Imagino a única voz que não silenciou dizendo:
“Meu Deus, o que foi que nós fizemos?”

O filho que olha para o pai
E na pura inocência pede aquilo que não tem
 – Pai, estou com fome!
Não há nada mais para ser dito entre os dois
Neste silêncio ouço apenas o choro interno
De uma alma incapaz

O silêncio poético das palavras que se calam nas folhas de um caderno
O silencio das inúmeras tentativas de se conversar
A eternidade entre o “oi” e a resposta
O silêncio da voz e o barulho ensurdecedor de um coração
O silêncio da falta das palavras, das minhas e das suas.


Pablo Vinícius de Oliveira
26/11/2014

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Rabiscos XXX

I
Hoje fazem dois dias que não falo com você
E parece uma eternidade para mim

Me surpreende como a eternidade também pode ser pequena.


II
Tenho procurado medir as eternidades
A de não falar com você já fazem dois dias

E continua aumentando.


Pablo Vinícius de Oliveira
24/11/2014

Rabiscos XXIX

Toda vez que ela sorri
Só vejo pássaros
Uma revoada deles saindo de teu sorriso

Não negue a estes pássaros a liberdade.

Pablo Vinícius de Oliveira
23/11/2014

domingo, 23 de novembro de 2014

Rabiscos XXVIII

Se teu coração é mesmo
Um forte intransponível
Eu não irei forçar a entrada

Entrarei acompanhado
E com você de mãos dadas.


Pablo Vinícius de Oliveira
23/11/2014

Eu poderia esquecer você

Eu poderia esquecer você
E ser uma pessoa mais inteligente
Estar dentro dos padrões dessa sociedade
Dar uns beijos por aí
E voltar pra casa sem saber o nome

Ser muito mais isso
Essa coisa do nunca se apegar
Imagina, eu sairia
Ficava com quantas conseguisse
Aquela coisa louca do momento

Porque, sinceramente,
Está difícil aguentar essa saudade
A vontade de olhar teu rosto
De te deitar no colo
De passar a mão nos teus cabelos

Tá difícil fazer alguma coisa
Enquanto a ansiedade de uma única palavra
Te acompanha o dia todo
Poderia ser um oi, meu nome, bom dia
Mas até agora tem sido apenas silêncio

Eu poderia ser inteligente e esquecer isso
Seguir esse padrão das coisas liquidas
Eu seria muito mais sociável e popular
Mas eu não sei ser outra coisa
A não ser eu mesmo.


Pablo Vinícius de Oliveira
23/11/2014

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Teu riso

Teu riso é pássaro
Se engaiolado canta triste
Pode até enganar alguém
Mas lá no fundo sabemos
Que seu canto é de sonho e liberdade

Teu riso frouxo
É para mim como que um canto
O canto perfeito da natureza
Das águas, dos pássaros, das árvores
A obra de arte a qual
Meus olhos e ouvidos reverenciam
E eu simplesmente me encanto feito um bobo

Ri a qualquer momento
E por qualquer motivo mesmo que
Aos olhos de outros pareça fútil
Ri, ri de si mesma, e dessa cidade de loucos

Ri que teu riso é como que Lua cheia
Quando sai no horizonte da cidade cor de cinza
É como que chuva que corta a estiagem
E põe alivio nos olhos do sertanejo

E se vir o mar ri
Que o teu riso é o alimento das ondas
E dará o ritmo da composição suave das marés
E se vir o choro ri
Que teu riso será como que a solução dos problemas
E o alivio imediato da angustia que transborda

Ri deste menino
Que te escreve poemas
Querendo que um dia eles sejam mais que palavras
Nos ouvidos da menina de sorriso de liberdade
Ri que teu riso é minha inspiração

Se os tempos não forem bons
Mesmo assim ri
Teu riso deixa o mundo um pouco mais belo
É uma luz a mais
Um por do Sol sem hora marcada

Não me nega o teu riso
Não há agora como ser poeta sem ele.


Pablo Vinicius de Oliveira
21/11/2014

Rabiscos XXVII

Das decisões que tomei
a de esperar você falar comigo
foi uma das mais difíceis

Todavia admito
coisas urgentes não podem esperar muito.


Pablo Vinícius de Oliveira
21/11/2014

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Já enfrentamos as dores de amar...

conosco o amor já foi cruel e enganador enquanto pode.

Fizemos de nós um forte quase intransponível
e fechamos nossas fronteiras
para que o amor não mais nos explorasse.

Disseram-nos muitas coisas boas sobre o amor
infelizmente, não disseram que as pessoas não sabiam amar
porém continuaram a ladainha de sempre
que aquilo era sim amor
e se amávamos deveríamos resistir

Tudo moral que nos obrigaram a se submeter

Menina, contudo é preciso se dar uma chance
olhar o mar como quem pede ao futuro
que a vida seja diferente disso que já foi

Agora é hora de ser novo
de ser silêncio e paz
de ser livre como é na essência

É a hora de partir desse mundo
se o amor pode acontecer ele acontecerá agora

Quero te ver chegar
quero nos ver chegar.


Pablo Vinícius de Oliveira
19/11/2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Rabiscos XXVI

Ainda lembro o dia que você cruzou meus olhos
lembro com exatidão dos teus olhos negros
fugindo das frases do livro e me encontrando
e teu sorriso de liberdade se abrindo para mim 

Só não sei onde está o mundo que eu inventei
antes de te conhecer.
Não me interessa mais.

Pablo Vinícius de Oliveira
17/11/2014

domingo, 16 de novembro de 2014

Isso talvez não seja um poema...

É muito mais um relato
Um relato do dia insuportável que passei

Garganta inflamada, corpo febril
A noite em claro
E o sono péssimo quando o dia amanhece

Uma saudade imensa
Aquela vontade quase incontrolável de falar com você
E a necessidade de afogar a sua lembrança
Em qualquer copo de cachaça que encontrasse.

De te mandar as músicas mais lindas
E aqueles poemas que te fiz
Quando teu rosto era tudo que via
Quando fechava os olhos e imagina a vida

Mas tudo que fiz neste dia
Foi pensar em você em silêncio
Um silêncio tão profundo
Quanto os lugares mais fundos dos oceanos.

Sobrevivo ainda, dia após dia
Não sei até quando.

Pablo Vinícius de Oliveira
16/11/2014

Minha autoestima é enorme quando trato de qualquer assunto
Mas não me fale de amor, não agora, não hoje...

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Se ela sorri

Quando ela sorri parece que voa
Sorriso de liberdade com asas de passarinho
Seus olhos dizem “fique”
Não, melhor, eles dizem “volte”

E eu volto sempre para aquele riso frouxo
Sua boca diz: não me esqueça
Minha mente se pergunta: como esquecer?

Aqueles olhos de noite é o puro mistério
Ah, menina, se eu descobrisse o segredo por trás deles
Prometia a deus que faria um esforço
E acreditava nele de novo.


Pablo Vinicius de Oliveira
12/11/2014

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Inútil só serve para poesia, Manoel

O infinito do poeta
Não é maior que a formiga
O infinito é miúdo, Manoel
Você sabia

Sua palavra não teve limites
Transformou tudo em poesia
E para a poesia
Qualquer coisa serve para muita coisa

Mas ser inútil só serve para uma coisa:
Para ser poeta
E no seu lugar de ser inútil
Você expandiu o mundo e foi sempre criança

A gente não tem história
Só temos invenções
E as contamos como quem não quer nada
Pelas desbiografias que escrevemos

Quem tem vidro mole por traz da casa
Nunca terá enseada
A gente sonha, Manoel
E graças a isso fazemos curvas

Quem é passarinho
E inventa o fazedor de por do sol
Tem em si um único destino
De quando crescer ser poeta

E esse nossa vida tão preciosa
Igual à folha que cai no outono
Manoel, uma hora ela se desagarra
E a pequenez se infinita

O horizonte se agita
O menino que levou água na peneira
Viveu pra ser poeta
E encontrará o infinito para ser poesia.


Pablo Vinícius de Oliveira
11/11/2014
Dedicado a Manoel de Barros o Poeta do inútil.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Rabiscos XXV

O amor
De que se alimenta?
De que alimento o meu?

Entristece-me ver o amor morrer de fome

Vê-lo morrer a cada semana
E depois nascer novamente
Condenado a não ser mais que um só


Pablo Vinícius de Oliveira
06/11/2014

Não

Os dedos que tocam os lábios
Antes que a outra boca os toque
As mãos que tocam o rosto
Dizendo-te “acorde”

E o não...
Não, não, não, nãããããooo!

Não toque
Não faça
Não se toque
Não me toque
Não se faça

Esqueça, esqueça tudo

Não deixe que aconteça
E não faça acontecer
Não abra a porta
Tranque sua alma
Prendam-na na masmorra mais escura
Jogue a chave fora

Siga, igual
Um, dois, três, quatro

Matem-no, matem-no

Antes que ele escreva
Mais um poema



Pablo Vinícius de Oliveira
05/11/2014