Caminhávamos pela estrada de terra batida e
pedregulhos
Você olhava os bichos e as plantas ainda verdes
Eu apenas te olhava
O Sol era claro, pouco menos do que nossos olhos
poderiam resistir
Os sons eram cânticos, a natureza se fazia presente
sem maiores ressentimentos
Pouco se ouvia do som da cidade, um ruído ao longe,
um murmuro trago pelo vento
Era manhã de sábado, e deveríamos ter acordado com o
sol em fúria
Mas subvertemos as vontades do sono e da preguiça e
pulamos logo cedo
O dia ainda estava frio, ainda assim não teve quem
te segurasse
Naquela hora o astro rei já se impunha soberano
Mesmo assim você pedalava lenta, desatenta do
caminho
E atenta demais pelo que se passava em volta
Uma verdadeira desbravadora oriunda do litoral em
pleno semiárido
Mesmo com o sol radiante o dia estava apenas
começando
Os pássaros ainda cantavam e teus olhos eram câmeras
fotográficas, nada escapava
Você
viu a água que acumulada das poucas chuvas dava uma cara nova àquele ambiente
Parou, desceu, correu, eu te acompanhava como um pai
que cuida do filho extasiado
Nunca vi tanta energia numa pessoa que não tinha
mais 10 anos, mais que o dobro, diria
Rapidamente você apanhava as pedrinhas do chão e as
arremessava na água
E ficava ali a observar o ricocheteado delas pela superfície
da água até afundarem
Duas, três vezes, era puro encanto infantil na
descoberta das coisas simples
Enquanto eu te observava sentado sobre o lajedo à sombra
de grandes árvores
Você me chamava para te olhar de perto e eu apressado
atendia ao teu pedido
Não havia como negar o pedido para observar de perto
o encantamento
Contudo, eu acordei, olhei dos lados e daquela
história ficou apenas minha vontade
Eu acordava na cidade litorânea, o seu paradeiro eu
desconhecia
Não dormi mais, aquela lembrança me perturbou o dia
todo
Eu só conseguia questionar o tempo: quando tão bela
lembrança
Iria fazer parte de minha vida como um acontecimento
lírico
Em plena modernidade do séc. XXI?
Pablo Vinícius de Oliveira
29/11/2014