Nasci
numa família classe baixa, minha mãe era professora do ensino público
municipal, meus avós eram agricultores e já aposentados. Para mim nunca faltou
nada, sempre tive o feijão com arroz e cuscuz na mesa, uma roupa limpa para
vestir, um brinquedo para a diversão. O trabalho de minha mãe, mesmo ganhando
pouco serviu para me dar as condições que ela não teve.
Quando
nasci muita gente ajudou minha mãe, doando a ela aquilo que seus filhos não
mais utilizavam e já não os servia. Assim foi meu berço, algumas peças do
enxoval e algumas roupinhas. Minha mãe fez o mesmo, sempre me ensinou a dividir
o que era meu e que não mais me servia, o mesmo berço que um dia me serviu foi
doado e serviu a outra mãe e criança, roupas e brinquedos meus e posteriormente
dos meus irmãos também foi assim. O que não nos serve servirá a outro.
Eu
vi a seca de perto, a fome, a miséria. Ainda lembro-me dos saques feitos pelos
próprios sertanejos aos carros que traziam cestas básicas àqueles que sofriam
com a seca para que nem todos morressem de fome. A fome não espera. Vi animais
e humanos morrendo de fome e de sede, e meu avô e meus tios se desesperarem
vendo os bichos sucumbirem à fome sem nada para fazer.
Vi
muita gente chegar lá em casa e pedi a meu avô para morar numa casa composta
apenas por uma sala que pertencia a ele e se localizava ao lado da nossa, meu
avô com rapidez e sempre que podia a disponibilizava sem cobrar um único
centavo.
Vi
crianças irem à escola com roupas rasgadas, sujas, maltrapilhas, com fome, se
não tinha comida imagine sabão para lavar as roupas. Por vezes tudo que tinham
para comer era o fraco lanche oferecido pela escola. A desnutrição matava sem
piedade e nossas crianças eram vitimas da pobreza e da fome. Vivi em um tempo
em que guardávamos as sobras do almoço, não na geladeira, talvez nem a
tivéssemos ainda, mas para aqueles que não tinham o que comer e passavam de
porta em porta pedindo.
Vivi
em um período em que universidade era coisa pra gente rica, que tinha condição
de pagar boa escola e de manter seu filho morando na capital, pois universidade
não chegava ao interior. Filho de pobre sonhava com a universidade de atrevido
porque não era algo feito para ele. Feliz daquele que conseguisse terminar o
ensino médio, já era um grande vencedor.
Nesse
tempo, pobre tinha como transporte os pés calçados com uma chinela velha com um
arame segurando o botão. No máximo uma bicicleta velha enferrujada para
conseguir chegar à roça para trabalhar.
Contudo,
vivi para ver Lula ser eleito presidente do Brasil como o primeiro presidente
da classe trabalhadora, e o vi assumir seu principal compromisso com os pobres
e com o fim da fome e da miséria.
De
Lula até hoje a realidade não é mais a mesma que eu vivi na infância. Eu vivi e
vi tudo melhorar. A seca não mata mais o homem/mulher e o animal. Ninguém mais
saqueia caminhões com mantimentos porque estas pessoas já tem o que comer.
Hoje
todos têm condições de comprar sua casinha, há anos ninguém mais bate a porta
de minha casa para pedir ao meu avô uma moradia. Meu avô não tem mais o prazer
de ajudar, mas tem a satisfação de saber que qualquer um pode ter um lar digno
para viver com sua família.
Hoje
em dia observo as crianças que chegam à turma de primeiro ano de minha mãe,
todos bem vestidos, limpos e alimentados. Eles hoje comem um lanche de
qualidade comprado dos próprios produtores rurais locais e com total
acompanhamento de uma nutricionista. Hoje a desnutrição na creche de minha
cidade é zero, e ainda assim todas as crianças são acompanhadas pelos
professores e profissionais responsáveis.
Faz
tanto tempo e não lembro qual foi a ultima vez que alguém passou na porta de
minha casa pedindo as sobras do almoço para matar sua fome, diferente do que
acontecia tão frequentemente há 12 anos.
Vivi
para ver a SAMU atender a casos de emergência com rapidez e eficácia, as UPA’s
darem apoio nos atendimentos de urgência e emergência, diminuindo as filas nos
prontos-socorros dos hospitais, vi médicos serem deslocados para atender no
interior dos estados, beneficiando mais de 50 milhões de habitantes dos lugares
mais pobres e desconhecidos que sofriam com a falta desses profissionais.
Hoje,
eu filho de professora de rede publica e neto de agricultores do interior do
RN, estou no ensino superior, na melhor universidade do norte/nordeste, onde
antes apenas os ricos frequentavam. E não sou só eu, são milhões de jovens que
agora tem acesso a academia. Hoje o filho do pedreiro pode virar doutor, e a
universidade além de estar em constante melhoria, equipada, com livros e
totalmente estruturada ainda dá a oportunidade para que seus alunos de baixa
renda estudem sem precisar dividir seu tempo da faculdade com o emprego,
concedendo bolsas de pesquisa, auxilio e extensão.
Vivi
para ver cerca 500 Institutos Técnicos profissionalizantes serem construídos,
ensino tão bom quanto o das melhores escolas particulares e com amplo acesso as
camadas mais humildes, atendendo todos os lugares do Brasil. Vi 18 novas
Universidade Federais serem criadas, inclusive uma no meu semi-árido (UFERSA),
e 152 novos Campi colocando o ensino superior não só na capital, como também no
interior. Vi milhões de estudantes de classe baixa sair do ensino médio e
ingressarem numa universidade através do PROUNI e FIES.
Hoje
vejo meus amigos e conhecidos, da mesma classe econômica que eu e por vezes até
mais baixa, com seus transportes, sejam eles motos ou carros. Bicicleta em
grande parte dos casos ficou para aqueles que optaram pela prática do exercício
que ela proporciona.
Tudo
isso graças aos projetos e programas implantados durante esses anos e pela
valorização do salário mínimo.
Eu
vivi para ver o Brasil mudar, eu vivi para ver pobre ter vez, eu vivi para ver
um dos países mais desiguais do mundo permitir que seu povo tenha dignidade, eu
vivi para ver 36 milhões deixarem a miséria, eu vivi para ver o meu país sair
pela primeira vez na história do mapa da fome.
Eu
vivi para ver o Brasil não depender mais do FMI, e ser um país respeitado
mundialmente, inclusive deslocando o polo econômico mundial, antes
euronorte-americano, para os países emergentes.
Eu
vivi para ver um operário e posteriormente uma mulher que lutou contra a
ditadura militar, que foi presa e torturada ser presidente/a do Brasil.
Eu
vivi para ver o meu país ser muito mais justo e igual.
Por
isso e por muito mais eu voto 13, sem medo de ser feliz e de coração valente,
contra o retrocesso ou qualquer forma de preconceito e discriminação eu estou
com Dilma Rousseff.
Pablo
Vinícius de Oliveira
Aluno
de Licenciatura em Filosofia na UFRN
Obs: texto escrito e postado no meu perfil no facebook no dia 25 de outubro véspera da eleição.