segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Rabiscos XXXIX

Quis te dizer muita coisa:
(não te disse nada)
te escrevi um poema


Pablo Vinícius de Oliveira
29/12/2014

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Embriagar-me

Bebi vontade
mais que isso
engoli a seco tua distância
embriaguei-me a semana toda
e no final
uma ressaca tremenda de saudade

Para curar-me dessa ressaca
bebo do líquido poético do mar
hidrato-me na areia da praia
com o som incansável das ondas

Alimento-me de todo o doce que encontro
nutro-me dos abraços dos amigos
das palavras de conforto
das conversas e dos carinhos de outros

Contudo devo admitir que sou um viciado

De tua falta tomo porres
viro em minha boca doses puras
que amargam em minha garganta
e descem como que rasgando meu peito

O que me incomoda apenas
é esta bebida difícil de engolir
preferiria embriagar-me com tua presença
inebriar com o cheiro do teu pescoço

Por enquanto ponho e tomo
(sem maiores resistências)
mais uma dose daquela amarga bebida.

Pablo Vinícius de Oliveira
25/12/2014

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Cronologia do dia (ou do teu sorriso)

Amanheceu com teu sorriso
do céu de tua boca
pássaros voaram pousando em teus lábios

Quando o Sol atingiu o ponto mais alto no céu
aquela alegria já era tímida
um mero esboço talvez

Entardeceu, o Sol pensava em se esconder
a luz agradável da manhã
há muito já havia se desfeito
bem como a felicidade matinal presente em teu rosto

Anoitecia em minha vida
mas no céu algo nascia
era teu sorriso
que feito lua
iluminava meu mar


Pablo Vinícius de Oliveira
14/12/2014

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Aos nossos mortos

Muitos companheiros se foram
Da luta nunca se retiraram
As bandeiras que nos acompanham nas batalhas
Um dia cobriram seus corpos
Mas não por muito tempo
A luta não se cansa
E quem luta não pode parar
 
As lembranças destes
Serão nossa inspiração
O fim de suas vidas
Não será em vão
As flores de seus túmulos
Contra os canhões serão nossas armas

As suas memórias
Serão nosso alimento
E quando nossos olhos se cansarem
Que não fuja de nossas mentes
A barbárie de suas mortes

Que ecoe em todo o mundo
Estas palavras
Que as ruas e os campos
Sejam nossos lugares de batalha
“Aos nossos mortos
Nenhum minuto de silêncio
Mas toda uma vida de lutas.”*

Pablo Vinícius de Oliveira
13/12/2014

*Palavras de ordem do MST

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Rock e lirismo: dias dissonantes

Baterias, baixos e guitarras
O som quebra o ritmo do vento
Na cidade do Sol ele se põe

As veias poéticas saltam
As cabeças giram
O rock rola solto

Já passa da hora
Na verdade não tem hora nenhuma

Ela senta ao meu lado
Não sei se gosta de gênero

Tomo mais uma dose
Daquela cachaça barata
Tento chegar o mais próximo
De ser um ser normal

Depois de tanto rock
Talvez tenha sido aquela menina
O lirismo que encontrei naquela noite.


Pablo Vinícius de Oliveira
12/12/2014

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Rabiscos XXXVIII

(sobre a poesia e/ou sobre ela)

às vezes nela me encontro
outras vezes em teu mundo me perco

encontro-me como quem mergulha nas ondas do mar
emerge e limpa o rosto para mergulhar novamente

perco-me como quem encontra um lugar novo
o invade e descobre outra realidade


Pablo Vinícius de Oliveira
11/12/2014

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Para o próximo adeus

A todo momento
as pessoas se despedem

se encontram
e desencontram

cada tchau do desencontro
tem um pouco de adeus

os navios das despedidas
atracam no porto da vida
os tchaus do até logo
carregam sempre 

um pouco do nunca mais

a cada partida
esperamos que se perpetue 

a possibilidade
de termos mais uma vez
o próximo adeus
Pablo Vinícius de Oliveira
10/12/2014

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Rabiscos XXXVII

Para os amores de segunda
O sono e a preguiça de acordar cedo
Para os amores de sexta
Os desejos, as vontades e a embriaguez 


Pablo Vinícius de Oliveira
09/12/2014

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Rabiscos XXXVI

estou com sensação de morte
dentro de mim algo explode
vivo uma guerra
e agora sofro um ataque

– fuja, fuja...
tento
minha caixa torácica me prende.

Pablo Vinícius de Oliveira
08/12/2014

Rabiscos XXXV

da minha dor
nem eu sei
eu não guardo
mas ela se guarda
no meu peito
vazio


Pablo Vinícius de Oliveira
08/12/2014

Rabiscos XXXIV

Na medida das eternidades
O teu silêncio
Eu não tive como medir no tempo


Pablo Vinícius de Oliveira
07/12/2014

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O álcool e a tua lembrança

Embriago-me para te escrever um poema
O álcool potencializa o meu sentimento
Que sem poder se alimentar
Tende a morrer desnutrido

Transcendo a realidade
E tento encontrar um mundo distante
Quanto mais as garrafas se esvaziam 
Mais teu nome surge por entre as coisas

O bar é meu lugar de lembranças
Eu bebo para não te esquecer
Para ter por quem escrever
Para encontrar a paz que eu não tenho


Pablo Vinicius de Oliveira
04/12/2014 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A invasão do castelo

De minha vida
Fiz um castelo
Com uma muralha enorme
E um fosso para dificultar a entrada
Pus uma torre em cada extremidade

Assim me vi protegido
Não era possível que alguém
Sem que tivesse minha autorização
Pudesse invadir aquele local

Sendo assim, descansei

Veio você, enquanto caminhava
E com uma mera distração
Invadiu meu reino

E mesmo se dragões eu tivesse
Nada poderia ter feito

Você sem jeito me olhou
Desculpou-se
Eu já não tinha o que fazer

Quis partir
Pedi que me levasse junto

Eu já não tinha um reino
Tinha o mundo inteiro

Neste dia a praia e o mar
Foram pequenos para nós

Não existe defesa forte o suficiente
Quando não se tem inimigo


Pablo Vinícius de Oliveira
03/12/2014

quando me encontrarem...

entenderão que fui saudade
vontade e falta

aqueles que me viram
ignoraram
quem mais além de mim
pode se interessar?

da saudade sou praticante assíduo
das ausências eu conheço tudo
até as faltas mais graves

dos espaços  
eu tenho um coração vazio
quilômetros de terras devastadas
latifúndios inteiros

nada me invade
a não ser meu próprio pensamento
o próprio estado de ausência

a barba cresce
para que alguma coisa fique
e mude
nessa falta toda

e assim como o sentimento de falta
esta poesia não tem começo
muito menos terá um fim


Pablo Vinícius de Oliveira
03/12/2014

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Rabiscos XXXIII

Escrevemos para matar nas palavras
algo que nos mata
Escrevo porque tenho necessidade
de não morrer.


Pablo Vinícius de Oliveira
01/12/2014

Rabiscos XXXII

Parei de procurar o amor
Hoje em dia procuro apenas o teu sorriso
Acho que eles se parecem

Pablo Vinícius de Oliveira
01/12/2014